quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O que é segurança publica?

Jogos do poder

No “tabuleiro” do narcotráfico, algumas peças cruciais para que ele alcançasse a dimensão atual. A primeira delas data do século XIX e seu criador, o Barão de Drummond, talvez não imaginasse que, um dia, seria usada no comércio de entorpecentes. È o que revela o professor do Departamento de Geografia da UFF, Helio de Araujo Evangelista, em sua pesquisa O Rio de Janeiro: violência, jogo do bicho e narcotráfico segundo uma interpretação, obra recém-publicada. Nela, o estudioso descreve a trajetória do jogo do bicho no Rio de Janeiro.

Criado em 1892 para dar fim à profunda crise financeira enfrentada pelo Jardim Zoológico do Rio, o jogo se transformou, mais de um século depois, em ponte para o estabelecimento do tráfico na cidade. Esse processo foi gradual e contou com alguns fatores importantes. Um deles era a realidade suburbana, menos glamourosa que o dia-a-dia dos moradores da Zona Sul carioca. “Em direção aos subúrbios, pela linha de trem, nós tínhamos uma economia informal, e mais especificamente o jogo do bicho, a ‘fezinha’ da população mais pobre. Esse costume foi deitando raízes nos hábitos populares e justificando a construção de uma verdadeira rede de contatos, um histórico, uma relação de lideranças e traços de fidelidade entre diferentes grupos e pessoas”, explica Evangelista.

Ao longo do tempo, a trajetória da “fezinha” foi marcada por violentos conflitos entre os bicheiros pelos pontos de venda, pelas perspectivas áreas de influência ou ainda quando surgiam novos quadros que pretendiam entrar no “negócio”. Esse cenário, por si só cheio de conflitos, iria sofrer uma importante modificação com a introdução da cocaína na cidade do Rio de Janeiro.